Aurora Irregular


Aquilo se diluía num único espremer. Não sei expressar ao certo como aquilo saía de sua cabeça. Parecia cinza e tinha algumas cores. Como o vermelho, vindo de um buraco profundo. Naquela parte era o que mais espremia, mas parecia não se espalhar e se dividir. Desperdício, talvez por existir o vento e dissolver até juntar ao nada, como a gravidade do espaço num momento certo, quando surge uma bola de energia e espalha como a aurora boreal.

Tinha muitas pedras que me machucaram quando eu estava perto. Talvez a tenha machucado também, por dentro. Não pude evitar, não poderia sair dali quando estava ao meu alcance. Não ousaria, me alimentava dessa energia que me fazia enxergar a vida mais clara e melhor. Dias e noites. Ela parecia mobilizada em pequenos fragmentos que flutuava em sua volta. Queria rouba-los para devolve-los de alguma forma para dentro de seu corpo para vê-la bem. O vazio tornava a aumentar.

Ela estava virando opaca, sua pele não era a mesma, um parasita a sugava através de seu rim, que se tornava cada vez mais vulnerável e para absorver qualquer infecção da antimatéria. Fiquei ali a observando, sua transformação, angustiante por sinal, sua luz era maior que o sol e sua energia maior que qualquer alegria. Sua tristeza a libertava, trazia novos ventos, novas cores em tons jamais vistos pelo olho humano. Era uma alienígena de outro mundo, já que seu interagir não passava de um simples olhar.

Avistou uma multidão ao se aproximar, que tinha outros membros além de braços e pernas que se moviam. Esses pequenos aparelhos prendiam-lhe a atenção e emitiam um luz branca. Chamavam-se “faróis do dia e da noite”. Sugavam as energias coloridas de outras pessoas. Diferentes da dela, que ficava em volta sem interação.

Agora, para onde foi? Gritei, ao perceber algo estranho em minha volta. Pela manhã, ao acordar o meu desgaste, como tudo ao redor, estava parada e sem me movimentar. Como aquela lá, que observava. Não me preocupei no que poderia acontecer comigo. Fiquei num estante obrigada a estar imóvel. Estou morta por dentro. Não sigo sem alguém para me puxar com sua aurora e me leve para o universo sem hesitar de estar nessa terra massacrada pelo domínio da natureza morta e cinzenta sem procedentes.

Olhei para frente e comecei a perceber o que tinha em volta de mim, e percebi que eu estava ali o tempo todo a me observar diante de um espelho. Pequenas raízes nasceram dentro de mim, numa natureza envolvente com o mundo. Do meu lado estava ela, passando tudo que jamais vi anteriormente para o mundo ao seu redor. Era a única energia que eu absorvia. Os outros, pálidos, como eram chamados nem se quer se conectavam, pois estava ocupados demais se recarregando com suas extensões que lhe forneciam energia. Pude ver e sentir naquele estante, então, que seria um fonte tão boa de amor para dar e receber para mim e para ela.
  
Imagem por:  Philippe Moussette at Observatoire Mont Cosmos, Quebec, Canada