O som fazia vibrar tudo e tornava o mundo frágil, como vidro, podia estilhaçar-se a qualquer hora. Não era um terremoto externo, era uma erupção de sons que surgia a cada batida da pulsação de seu coração.

Seus olhos molhados, mas sem lágrimas para cair em seu rosto faz a purificação de sua alma ser inesquecível e inédita ao sentir seu amor. Assim, era frágil como uma rosa sem espinhos protegida pela terra que a vitalizava.

Era quase de madrugada. Devia ser mais de meia noite. Helena não sabia ao certo. Estava cansada como na noite anterior, quando não conseguia dormir mais. Deitada na cama em seu quarto, sozinha, se lembrava do sonho que teve com seu ex-marido. Tão vívidos e diferentes de sua realidade.

Havia anos que não se apaixonava. Vagando pela casa sem sono, era uma alma sem alma. Não gostava de sair. Estava certa que em qualquer lugar que fosse não sentiria nenhuma vigor. Todos os dias, Helena ainda se lembrava de seu recente e falecido amor, foi casada ha muitos anos com ele. Era um homem educado, generoso e de bom coração.

Não era o fim do mundo se a chegada da morte não alcançava à todos.. Além de trevas, ainda existia a luz. Uma imensa luz que alcançava uma imensa plenitude, com almas brancas e puras. Do calabouço, olhava a imensidão, não havia nada limitando sua passagem para o que via, o que exatamente queria. Como uma luz no fim do túnel, havia algo se aproximando. Diferente de outras almas, aquela em que mais se importava e sonhava toda noite vinha a seu caminho. Viria busca-la, seu eterno amor finalmente a ajudaria a sair da sua prisão.

Ao dar o primeiro passo para a liberdade, um buraco se formou, e , Helena caiu. As luzes, o paraíso que finalmente encontrou estavam ficando cada vez mais distantes e menores na escuridão que ia tomando sua visão. Levantou assustada com o coração ainda fraco.

Agora, acordada, não queria viver mias numa realidade que só a fazia sofrer. Sonhar com seu ex-marido foi um sinal. “Um sinal, uma chamada!” - repetia em um tom alegre – pois finalmente sabia como encontra-lo.

Já fazia dias que queria sair dessa prisão. Sua busca de liberdade finalmente acabava ali. Os sonhos com eu ex-marido falecido não eram suficientes. Eram passageiros. A morte nunca foi tão tentadora em toda a sua vida. Era o único caminho de passagem de volta pra ficar com ele. Sem nenhum tempo, eternamente livre, sem alma presa ao corpo.

Em um tempo atrás percebi como a televisão pode manipular as pessoas. Foi um caso que aconteceu com um amigo meu com o seu pai. Ele tinha me contado o quão estava frustrado por não poder ter ido ao show de rock. Não era em outra cidade, não era em um lugar enorme que podia ter mais dez mil pessoas. Era um show que ele esperava muito ir. Como dependia do dinheiro deles, e, sem ter um emprego, ele não achava outra saída se não pedir a eles. Para isso, teria que tentar mudar a opinião de seus pais para poder ir.
Chegou no dia para poder convencê-los e só o que ouviu foi: “Show de rock? Só tem drogas, prostituição, é coisa demônio, não é coisa de Deus”. Seu pai dizia o que a televisão mostrava e falava, só que com outras palavras. Na hora dele perguntar se ele tinha ido a um show desse tipo e onde ele tirou essa informação, seu pai dizia em um tom confiante e nada questionador: “Ora, a TV mostra, você não vê?”. Sim mostra, assim como mostra muitas outras coisas que não se pode negar, mas também não se pode generalizar.

Ha muito tempo quando se falava em rock só se pensava em “Sexo, drogas e Rock n’ Roll”, foi um estilo de vida para Ozzy Osbourne e de vários astros do rock e fãs, principalmente para os hippies que lançaram essa trilogia. Não se pode negar a mudança de época e também a sua popularização. A mídia é muito influenciável quando a pessoa não cria uma própria opinião sobre um determinado assunto, principalmente quando não procura saber mais sobre ele. Hoje, pode-se dizer que os shows não são exatamente iguais por ter um tipo de banda no palco, os lugares não são os mesmos. Existem as pessoas que podem consumir drogas, vende-las, mas isso não altera o tipo de pessoa que você é quando se está num show. Os “publicitários” com seus produtos podem até ser persuasivos, mas sempre tem seu público-alvo: os interessados e os que cedem facilmente. Tudo é questão de consciência. Não somos culpados pelo acontece ao nosso redor se não participarmos.

E o pai continua com sua velha "opinião", ouve a do filho, mas não muda a sua. Sua experiência diz que ha muito tempo é consciente, sem deixar contaminar pelas atrações malignas. Como Monteiro Lobato disse, “O jeca não é assim, ele está assim”.


Olhos furados, talvez inabilitados como suas pernas. Seu ego por dentro o chama de incapacitado. Apenas isolado do dinheiro. Casa sem ser sua, e rua onde pode morar. Pode até ser político, mas não quer roubar. Quer conseguir o dinheiro que tanto precisa no mês.
Nunca foi morador de rua. Acha que tem uma sorte grande por ser homem branco com roupas limpa. Mais vantagem para um desempregado que ainda se acha mendigo, por não trabalhar dignamente como um cidadão de nível bom. Como se trabalhasse na roça ou sertão, suando debaixo do sol quente no trabalho árduo, busca incansavelmente uma entrevista de emprego que o fizesse ser digno.

Não há riqueza sem trabalho, qualificação sem estudo e aprendizado. Como também não há salário de valor suficiente para suas despesas e impostos.

Um dia conheceu uma mulher linda, de cabelo preto levemente cacheado. Tinha olhos castanho-claros, esbelta e simpática. Não tinha outra chance, nem com ela e nem com outra entrevista de emprego. Tinha que conquista-la pelas qualidades, pelo olho a olho. Dependia ter um emprego naquela sala de entrevista. Não poderia flerta-la, mas iria conquista-la de outra forma. De homem pobre, seria um homem rico e charmoso, assim esperava.

Fé era sua força como um bom homem de Deus que era. Todas as noites ao passar pelos mendigos que dormiam ao lado da catedral, ele se questionava se veria ser um deles. Passou a rezar todos os dias na igreja. Não precisava de um milagre para que o salvasse do desemprego, ser guiado para o caminho certo era seu único desejo.

Seu amigo sempre dizia: “Estou ganhando muito dinheiro sem ter um trabalho. Por que não vem comigo no meu novo negócio?”. Não era papo de empreendedor, apesar de haver troca de mercadorias. Como sabia que isso não iria acabar bem, não achava que valeria a pena arriscar e passar uns anos na prisão por causa de venda ilegal de drogas.

— Por favor, Senhor Augusto? Alguém se chama Augusto?- perguntava a mulher que guiava os candidatos à sala de entrevista.

— Sou eu! – respondeu logo quando percebeu que não prestou atenção a primeira chamada.

— Por favor, senhor, pode entrar. – a mulher disse.

Essa era hora de mostrar suas qualidades naquela sala, depois que for demitido por causa da crise econômica que se enconrava na Europa, voltou ao Brasil para ter melhores condições e se encontrou na mesma. Semanas se passaram e nada de respostas.

Foi então que decidiu com a tristeza que se encontrava virar um palhaço de festas infantis. Essa poderia ser a alegria que tanto procurava. Persistiu nos seus objetivos até chegar a criar seu próprio circo. Achou então seu lugar e seu sorriso. O seu emprego definido dos seus sonhos que nunca tivera. Seu novo currículo não era preenchido por novas experiências profissionais, era preenchido por qualidades sem certificação, não valeria para empresas, valeria para si que acreditava ser capaz no que fazia. Não ficou charmoso e rico como esperava, pois ahora já achou seu lugar predistinado.