Contrato preparatório


Como estou pálida! Disse ao sair direto para o banheiro. Querida, não vá se atrasar, hoje temos uma programação especial, beijos e te amo. Ouviu-o saindo pela porta. Enxugou o rosto e escovou os dentes como de costume.

As tarefas, feitas todos os dias a cansava, não era mais aquela jovem de antes, disposta e cheia de energia. Era bonita, adorável e causava muitos efeitos nos homens, principalmente no Daniel, seu antigo namorado.



Escolheu a vida de casada, não queria ficar sozinha, como um cachorro sem dono e sem amor.

Sua dependência não estava no aspecto financeiro. Tinha se formado em Publicidade, trabalhou por um tempo e conseguiu uma promoção logo de cara. Pela sua criatividade e por um grande resultado que conseguiu com uma brilhante ideia, que subiu as vendas daquele mês na empresa. Seu chefe, atual marido a promovera então de funcionaria para esposa, com o aumento de dinheiro e luxo, muita qualidade de vida.

Aquele tipo, sabe que quer que a mulher dependa do marido para ele ter o controle financeiro? Velha história, sorriu ao contar para as amigas. Nem sabe ele como faço para me manter feliz em minhas escolhas. Todas começaram a rir. Maridos! Às vezes acho que estão pulando a cerca e quando vejo, eu é que estou do outro lado o vendo tomando café que eu tinha feito antes, disse uma delas. Sua indiscreta! Nem precisaria fazer isso se o quarto estivesse vazio. Riram num instante de desprezo e satisfação.

Naquela noite, Bia pensou consiga mesma na varanda em pé ao olhar o céu. Sua consciência a fazia duvidar se seu marido também já não fez a mesma coisa. Estaria infeliz pelo pecado ou por não tê-lo mais como parceiro em todos os aspectos? Perdeu a companhia e não sabia como se aproximar, estava velha e cansada demais. O que se seguia era a solidão e consciência de nunca tê-lo amado. Pelo menos de volta, como se espera de uma companheira.

Conversava com um rapaz na internet que encontrou num site de relacionamentos. Ele era diferente, até demais. Parecia uma mistura de Marcio Garcia com Roberto Justus. Beleza e charme. Charme, beleza e seriedade. Não tinha um problema de ter um relacionamento assim. A fazia feliz, satisfeita e amada por ele. Sempre trocavam mensagens carinhosas.

Seu marido notou o tom dela com ele, distante e incompreensível, já que as coisas não estavam indo muito bem. Toda noite, Bia inventava uma história para ir dormir mais tarde. Plano que evitaria ter ele por perto para não ter qualquer tipo de envolvimento.

Porém, a relação não se tratava só da traição virtual, mas do que sentia e não fazia nada. Pura fantasia idealizada e não concretizada. Ela se esforçava, mas ele queria que ela que cedesse aos seus caprichos. Ele lhe dava moradia, dinheiro e cargo em troca de uma outra forma de retribuição.

Não era assim. Vivemos numa sociedade moderna. Olhe para você! As amigas a alertava. Tem que ter independência e liberdade para deixar espaço para os seus próprios valores e necessidades.

Oprimida jamais. Não tinha medo, mas seu medo anterior influenciou as suas decisões. Virava de uma lado para o outro. Mas que calor! Saiu do quarto e foi para a varanda afim de tomar um ar fresco.

No dia seguinte foi para casa da sua mãe. Nesse meio tempo foi conhecer seu pretendente que conheceu na internet. Talvez a faça feliz pessoalmente.

Depois de uma semana, voltou para o marido. Alegou as amigas que gostava muito dele, do trabalho e da vida com ele. As amigas lamentavam, e por incrível que pareça ela também.


Ilustração:
Krzysztof (Kriss) Szkurlatowski