Mergulho


01h00
Não jantei, e sinto um buraco no meu estomago. Parece que não como há dias por falta de vontade. Sai da cama. A casa estava toda escura, nada de anormal. Peguei o meu celular para ver as horas. Me levantei e tive uma ânsia, me sentindo mal fui até o banheiro para por pra fora o que não me pertencia. Olhei no espelho, minha expressão de enjoo não era nem a metade do que tinha dentro de mim.
Tive uma súbita vontade de sair dessas quatro paredes, fumar um cigarro lá fora, tragar e esfumaçar tudo para dentro de mim, como uma cegueira temporária que talvez me fizesse um alívio. 
Se eu apagasse todas as luzes dos cômodos da casa que eu tinha passado, o escuro ficaria vermelho, algum feixe de luz ficaria escuro, e eu ficaria transparente de dor.
Meu coração começou a acelerar. Como um disco velho, a repetição de lembranças dele tinha um tom repetitivo que não parava. Mal sabe ele que me fere todos os dias nos olhos e no pulso. Como se me matasse a cada dia ao extrair o vermelho que substitui minha escuridão. 
Acordei como que se eu tivesse tido um coma. Percebi o meu redor e me deparei de novo com as horas.


04h03

Fui ligar pra ele, não houve respostas, chamava e a mensagem de “Deixe seu recado” foi a única voz daquela madrugada. Soltei o celular das minhas mãos, sem poder joga-lo na parede, peguei meu cobertor e meu travesseiro e os coloquei no chão do meu quarto. Lembrei-me do meu colchão, e fiz a mesma coisa. Com o isqueiro na mão, via a chama ardente fazer de mim uma pessoa mais aquecida e o ambiente se tornar claro. Contudo, o que ocorreu foram duas gotas que se repartiram ao meio. Não quebrou o som, mas absorveu-se o silêncio. As duas metades de cada gota caíram no fundo como uma âncora. Apesar de se desprenderem como que se pesassem mil quilos, seu devaneio foi opressivo e consistente sem hesitar o escuro mais profundo do oceano. 
Nada fazia sentido.O espaço era extenso e engrandecido pela ignorância do enorme caos do meu mergulho.