01h00
Não jantei, e sinto um buraco no meu estomago. Parece que não como há dias por falta de vontade. Sai da cama. A casa estava toda escura, nada de anormal. Peguei o meu celular para ver as horas. Me levantei e tive uma ânsia, me sentindo mal fui até o banheiro para por pra fora o que não me pertencia. Olhei no espelho, minha expressão de enjoo não era nem a metade do que tinha dentro de mim.
Tive uma súbita vontade de sair dessas quatro paredes, fumar um cigarro lá fora, tragar e esfumaçar tudo para dentro de mim, como uma cegueira temporária que talvez me fizesse um alívio. 
Se eu apagasse todas as luzes dos cômodos da casa que eu tinha passado, o escuro ficaria vermelho, algum feixe de luz ficaria escuro, e eu ficaria transparente de dor.
Meu coração começou a acelerar. Como um disco velho, a repetição de lembranças dele tinha um tom repetitivo que não parava. Mal sabe ele que me fere todos os dias nos olhos e no pulso. Como se me matasse a cada dia ao extrair o vermelho que substitui minha escuridão. 
Acordei como que se eu tivesse tido um coma. Percebi o meu redor e me deparei de novo com as horas.



Imagem: johnny_automatic


Os carros passavam com os faróis acessos,  via-os com os lábios ressecados e pele queimada pelo sol. Olhou sua boneca junto ao seu corpo e a abraçou num gesto de maior carinho. Você me ama? Olhou-a fixamente e depois a carregou segurando-a com cuidado ao caminhar sem poder acordá-la, foram num lugar mais claro.

Ninguém foi bondoso naquela noite, os homens são maus, preferiam vê-la parada com fome e frio naquela beira de estrada sem ter pra onde ir. Por que ninguém não oferece uma carona? Quero muito ir embora daqui.


Giovani assim que chegou à sua mesa descarregou de seus ombros a mochila pesada que precisava carregar todos os dias. Olhou para os dois lados, tinham as mesmas pessoas passando por ele que diziam olá com um sorriso igual a do Coringa. Por que eu estou tão sério? Foi tomar um café, o dia parecia mais chuvoso. Um homem que conhecia só de longe comentou com ele sobre isso ao vê-lo ver o céu pela janela, parecia querer puxar papo. Porém logo saiu de perto, entediado como cara de poucos amigos.
Quando te vi fechar os olhos, não apenas o vi. Senti a sua leveza como uma onda calma vindo do mar com tempestade. Foi uma visão linda e sem medo do que eu mais enxergava em você, uma essência necessária que eu não conseguia suprir. Pois quando você dormia, minha alma se enchia de sonhos criados, ainda mais pelo silêncio que não estava ensurdecedor.

Concentrei-me sem dificuldade no sentimento que era ver você dormindo. Eu não poderia machuca-lo, e, foi exatamente o que não pude fazer. Mas nós soubemos que você tinha um mapa com outro caminho. Seria óbvio demais dizer que nós dois não iríamos nos machucar.

Vi você aquele dia, em pequenas partes da sala, o lugar que você lia os jornais e ouvia suas músicas loucas. Estava presente em lembranças como se fossem cenas de um filme velho. Apesar de sempre te chamar de meu, continuo com o que você pôde me devolver. Não pude entrar nesse mar turbulento, não havia barco ou qualquer outro meio. Não de novo, me aventurar, sem saber onde pisar.

De repente despertei, foi mais um sonho desviado. Esta noite, me concentro novamente nos sonhos que saem dentro de mim que nenhum dia pude realmente acreditar sem pôr uma razão. Pois não há, sentimentos são realmente inexplicáveis.



A violência e o vandalismo na capital de São Paulo relatado nos jornais nos últimos dias me intrigaram. Foi claro que a mídia julgou no começo todos os manifestantes como baderneiros.

Entretanto, como dito anteriormente pela grande maioria, será que os que estavam lá são só jovens que desrespeitam a lei e atrasam seu caminho? A resposta como sempre é olhar novamente, é pensar em por que tantos manifestantes que estavam lá exercendo seu direito acabaram violentados, não estavam lá para destruir patrimônios, públicos, do comercio privado etc.

A maioria não eram vândalos, eram cidadãos conscientes, que não trabalham ou estudam de cabeça baixa sem olharem o que está acontecendo em sua volta. São dignos para fazerem o protesto dentro da lei e conseguirem com a força que eles possuem o direito de refutar a qualidade do serviço das empresas de transporte e o valor cobrado.

Nenhuma violência abusiva contra qualquer cidadão que não fez nada contra algum policial é justa. Vândalos, oportunistas, opositores da lei devem ser punidos.

Minha indignação do acontecimento com os cidadãos não envolvidos, repórteres e manifestantes é imensa. Vídeos na internet que mostram o abuso de alguns policiais servem como provas, e será que serão identificados e penalizados?

Pois bem, a passagem de ônibus que foi aumentada mais do que necessário nos últimos anos mostra como as empresas de ônibus abusam do valor em longo prazo. Não se fala em apenas vinte centavos a mais na passagem. Fala-se do outro lado que é o da população que usa todos os dias ônibus muitas vezes cheios e com péssimas condições. Também se fala de democracia e direitos, não podemos ser totalmente livres, porém mais conscientes e inquietos com as atitudes do governo, que muitas não beneficia o povo.

Ontem à noite com Vanessa e Beto foi memorável. Roberta nunca tinha se divertido tanto desde que sua mãe morreu. Pegou o celular e escreveu uma mensagem de texto dizendo: “E aí? Ontem foi demais. Encontrem-me no Open Bar às 23h, ok? Se não puderem me avisem. Beijos”. Assim que enviou para os dois, foi tirar mais um cochilo. Eram nove horas da manhã quando adormeceu na cama outra vez.


Acordou mais tarde com uma dor de cabeça. Seus olhos estavam sensíveis à luz que atravessava da janela. Tinha sonhado com o Beto. Não foi como daqueles sonhos que se volta ao passado numa única noite. Numa mistura de cenário, mesmo que ele não estava, sentia sua presença, e era diferente. Como se ele estivesse o tempo todo consigo. Na memória, bem escondido. Não era difícil de imaginar do porque que tudo isso aconteceu. Justo porque ele está mais perto.


Roberta foi para o bar. Os dois estavam esperando-a. Vanessa, sentada na frente de Beto. Os dois estavam no canto da mesa, perto da janela. Ao lado dele tinha um rapaz, que parecia ter a mesma idade dele. Um amigo novo talvez? Nunca tinha ouvido falar, presumia que Vanessa também não saberia dizer quem era ele.


Sentou-se, cumprimentou todos com um gesto de saudação e disse um “oi” e um “Prazer em conhecê-lo. Sou Roberta, você é...?”. Antes de ele falar, Beto a interrompeu:


— Trouxe um amigo, Roberta. Vocês não sabem, pois sempre tive receio de que vocês responderiam de forma negativa. Naquela noite foi muito bom revê-las, e quando soube que vocês não eram machistas, preconceituosas como várias pessoas que encontrei na minha vida, quero dizer a vocês: Este é Claudio, meu namorado.


Ele não teve medo de dizer. Roberta estava chocada, isso explicava a aliança no dedo dele, o jeito como agiu, sem tentar nada com as duas na noite passada. Se o paquerasse, ia ficar frustrada, não seria um paquera difícil de conseguir, mas talvez impossível?


Tinha reparado Beto não tinha um jeito que todos pudessem desconfiar. Sentou-se perto de Claudio e sussurrou:


— Você é muito bonito. Pode falar vocês dois estão brincando que eu sei.


Desaproximou-se do ouvido dele e o beijou no rosto. Quando olhou em volta, Beto estava com uma expressão estranha, e Vanessa fazia um sinal frenético, tentando dizer para ela sair de lá.


Beto saiu da mesa de raiva sem dizer nada. Roberta saiu de a mesa para-lo e reverter à situação. Era uma vergonha que até o garçom sentiu, seu rosto estava vermelho, marcado pela expressão do constrangimento. O farol estava aberto, e passando dele, Beto, com seu carro a mil por hora.


RETORNO


Roberta voltou, onde estava Vanessa e Claudio. Sentia-se constrangida e arrependida por aquela situação.


— Bem… Eu não sabia que ele reagiria daquele jeito, me desculpem, vou embora. – saiu as pressas do lugar.


Passado algumas semanas, Renata foi viajar para o interior para por de qualquer jeito sua lógica em ordem. A cidade era no litoral, tinha praias, calor e água de coco.


Foi ao encontro do mar e sentou-se na areia, com a bagagem e cansaço nos olhos, parou para sentir o vento e o barulho das ondas. Num momento, ela se lembrou da esperança que teve de Beto, queria que ele sentisse ciúme dela naquele dia. Muitas coisas que tinha saído sua realidade não apenas a levava a refletir no que tinha acontecido, mas no que sentia. Foi um apego sem desculpa, um teste inútil e imaturo.


Viu o céu estrelado e as ondas cada vez mais silenciosas e menores. Se ele a visse, pediria para ele remover a maquiagem borrada de seu rosto escorrida pelas lágrimas.


Num momento quando percebeu uns grãos de areia na sua mão se assustou. Ao virar para o lado viu Beto sentado ao seu lado. Os dois se entreolharam e sorriram juntos. Ela continuou por um tempo a olhar o mar, parecia calma e ao mesmo tempo perdida. Ele pegou a mão dela e a levou para seu peito direito, fazendo a olhar novamente em seus olhos. O quão rápido estava o coração dele que batia, e foi então que ele a abraçou e sussurrou em seu ouvido: “Te ver longe de mim só me fez me esquecer o quanto gosto de ti, não sei o que realmente aconteceu, mas hoje, não te deixo sozinha”.

A partir daquela hora quando entrei naquele trem, um aviso de “mantenha-se seguro, em breve estaremos partindo” me alertou onde eu realmente estava: em um trem velho, antigo. Daqueles de filmes românticos que participam de cenas de despedidas de casais que se encontram anos depois.

Passei pelo corredor de janelas enferrujadas afim de tentar me acomodar. Mais pessoas iam chegando a cada minuto. Por um breve momento achei que teria pegado o trem errado. De um destino sem fim e sem meia volta. Todo aquele esforço de pensar em como poderia voltar e encontrar a saída daquele lugar poderia ser em vão, e assim fui indo, empurrada sem poder voltar por onde eu vinha.

Acabei por encontrar um cabine vazia e aparentemente muito melhor do que as outras. Pensei em como estava com sorte. De lá, consegui enxergar a paisagem sem ver alguma ferrugem exposta. Me deitei ali mesmo, absorvida da mudança da paisagem a cada segundo a mais de velocidade que o trem alcançava.

Numa hora, já a noite, o frio predominava e me obrigava a me encolher sem ter por onde me aquecer. Nessa viagem, nunca soube quando acabou e o que foi ,mas confesso parece que nunca acabou, pois ainda nem sei minha estação final.

Marcados pelo amor, carinho, atitudes boas e sentimentos bons, nosso eu vai sendo construído com a pessoa que queremos ser ao lado de quem estamos.

Estive tão perto do fascínio como se o amor fosse apenas uma ilusão. Mas o que é realmente o amor? Não deve ser um padrão. Simplesmente esse sentimento não tem características, atitudes corretas e até mesmo uma lei de como amar e a quem amar. Não é desprezível, vergonhoso, horrível e anormal. Não deve ser jogado debaixo do tapete se a verdadeira sujeira está por todo o canto.

O amor assinado é um passo que “todos” fazem quando amam. O protesto feito neste domingo – 13 de janeiro - com mais de trezentas mil pessoas nas ruas de Paris contra o projeto do casamento gay me fez perceber que ainda existe uma influencia muito grande da igreja contra os casais do mesmo sexo.

Casamento de diferente sexo ou não, para quem ama, não liga pra doutrinas que diz o que é certo ou errado, penso eu. Quem é o ser que proíbe o amor se manifestar?

Indiferentemente do país ou continente, se houver estado e democracia, o governo não deverá agir através da religião. Tem que ter uma postura que seja melhor para todos, e não para uma determinada doutrina ou crença religiosa.

Não se trata de apenas um lado da moeda. Houve também manifestações contra a opinião do papa que não gostou da postura do governo. Assim como as manifestações feministas, afrodescendente por direitos, o protesto a favor do casamento gay não é uma exceção. Entretanto, essa não é uma questão de como que um país tal deve agir. A questão é como as pessoas ainda agem sobre isso. Essa tal de resistência ao indiferente que não faz parte de seu mundo, a qual que inibe o respeito sobre outrem. Porém, digo, ninguém tem que aceitar, mas respeitar as diferenças.

Afinal, o amor quando se crê não muda de pessoa pra pessoa. Contra tantas coisas ruins opostas à isso, o que muda mesmo é o meio em que ele está, que dependendo, se torna um esquecimento temporário.





Numa típica manhã de um novo ciclo, acordei com os gritos de um vizinho da casa da frente. Meu bom humor pós-apocalipse fracassado de repente se esgotou. Abri a janela e flagrei uma típica cena de novela misturado com reality show. As pessoas que passavam pela casa não paravam de olhar e perceber os dois brigando. As pessoas se tornaram tão fiéis que cochichavam entre si palavras maliciosas e intrometidas. Como se sentissem no direito de ser uma plateia de um romance em crise.

Pensei comigo mesma: não irei prestar atenção, não é da minha conta. Mas isso se tornou inevitável. Havia muito barulho que hesitavam meus pensamentos.

Logo, isso teve um fim até a decorrência da tarde, quando todos comentavam de uma nova briga que acontecia num programa de reality show que passava na TV.

E lá estava eu, olhando por atrás de minha própria fechadura. Ao ouvi-los brigando, um espelho se concretizava em absolutamente nada na minha relação com ele. Justamente por não ter visto que ao meu redor os nossos corações apáticos que absorviam todo o ar e se fazia impossível revigorar-se.

Inquietamente transtornada, tive o cheiro da lembrança, afim de me espiar por dentro e perceber o verdadeiro episódio que se passava comigo e entre nós dois.