Ontem à noite com Vanessa e Beto foi memorável. Roberta nunca tinha se divertido tanto desde que sua mãe morreu. Pegou o celular e escreveu uma mensagem de texto dizendo: “E aí? Ontem foi demais. Encontrem-me no Open Bar às 23h, ok? Se não puderem me avisem. Beijos”. Assim que enviou para os dois, foi tirar mais um cochilo. Eram nove horas da manhã quando adormeceu na cama outra vez.


Acordou mais tarde com uma dor de cabeça. Seus olhos estavam sensíveis à luz que atravessava da janela. Tinha sonhado com o Beto. Não foi como daqueles sonhos que se volta ao passado numa única noite. Numa mistura de cenário, mesmo que ele não estava, sentia sua presença, e era diferente. Como se ele estivesse o tempo todo consigo. Na memória, bem escondido. Não era difícil de imaginar do porque que tudo isso aconteceu. Justo porque ele está mais perto.


Roberta foi para o bar. Os dois estavam esperando-a. Vanessa, sentada na frente de Beto. Os dois estavam no canto da mesa, perto da janela. Ao lado dele tinha um rapaz, que parecia ter a mesma idade dele. Um amigo novo talvez? Nunca tinha ouvido falar, presumia que Vanessa também não saberia dizer quem era ele.


Sentou-se, cumprimentou todos com um gesto de saudação e disse um “oi” e um “Prazer em conhecê-lo. Sou Roberta, você é...?”. Antes de ele falar, Beto a interrompeu:


— Trouxe um amigo, Roberta. Vocês não sabem, pois sempre tive receio de que vocês responderiam de forma negativa. Naquela noite foi muito bom revê-las, e quando soube que vocês não eram machistas, preconceituosas como várias pessoas que encontrei na minha vida, quero dizer a vocês: Este é Claudio, meu namorado.


Ele não teve medo de dizer. Roberta estava chocada, isso explicava a aliança no dedo dele, o jeito como agiu, sem tentar nada com as duas na noite passada. Se o paquerasse, ia ficar frustrada, não seria um paquera difícil de conseguir, mas talvez impossível?


Tinha reparado Beto não tinha um jeito que todos pudessem desconfiar. Sentou-se perto de Claudio e sussurrou:


— Você é muito bonito. Pode falar vocês dois estão brincando que eu sei.


Desaproximou-se do ouvido dele e o beijou no rosto. Quando olhou em volta, Beto estava com uma expressão estranha, e Vanessa fazia um sinal frenético, tentando dizer para ela sair de lá.


Beto saiu da mesa de raiva sem dizer nada. Roberta saiu de a mesa para-lo e reverter à situação. Era uma vergonha que até o garçom sentiu, seu rosto estava vermelho, marcado pela expressão do constrangimento. O farol estava aberto, e passando dele, Beto, com seu carro a mil por hora.


RETORNO


Roberta voltou, onde estava Vanessa e Claudio. Sentia-se constrangida e arrependida por aquela situação.


— Bem… Eu não sabia que ele reagiria daquele jeito, me desculpem, vou embora. – saiu as pressas do lugar.


Passado algumas semanas, Renata foi viajar para o interior para por de qualquer jeito sua lógica em ordem. A cidade era no litoral, tinha praias, calor e água de coco.


Foi ao encontro do mar e sentou-se na areia, com a bagagem e cansaço nos olhos, parou para sentir o vento e o barulho das ondas. Num momento, ela se lembrou da esperança que teve de Beto, queria que ele sentisse ciúme dela naquele dia. Muitas coisas que tinha saído sua realidade não apenas a levava a refletir no que tinha acontecido, mas no que sentia. Foi um apego sem desculpa, um teste inútil e imaturo.


Viu o céu estrelado e as ondas cada vez mais silenciosas e menores. Se ele a visse, pediria para ele remover a maquiagem borrada de seu rosto escorrida pelas lágrimas.


Num momento quando percebeu uns grãos de areia na sua mão se assustou. Ao virar para o lado viu Beto sentado ao seu lado. Os dois se entreolharam e sorriram juntos. Ela continuou por um tempo a olhar o mar, parecia calma e ao mesmo tempo perdida. Ele pegou a mão dela e a levou para seu peito direito, fazendo a olhar novamente em seus olhos. O quão rápido estava o coração dele que batia, e foi então que ele a abraçou e sussurrou em seu ouvido: “Te ver longe de mim só me fez me esquecer o quanto gosto de ti, não sei o que realmente aconteceu, mas hoje, não te deixo sozinha”.

A partir daquela hora quando entrei naquele trem, um aviso de “mantenha-se seguro, em breve estaremos partindo” me alertou onde eu realmente estava: em um trem velho, antigo. Daqueles de filmes românticos que participam de cenas de despedidas de casais que se encontram anos depois.

Passei pelo corredor de janelas enferrujadas afim de tentar me acomodar. Mais pessoas iam chegando a cada minuto. Por um breve momento achei que teria pegado o trem errado. De um destino sem fim e sem meia volta. Todo aquele esforço de pensar em como poderia voltar e encontrar a saída daquele lugar poderia ser em vão, e assim fui indo, empurrada sem poder voltar por onde eu vinha.

Acabei por encontrar um cabine vazia e aparentemente muito melhor do que as outras. Pensei em como estava com sorte. De lá, consegui enxergar a paisagem sem ver alguma ferrugem exposta. Me deitei ali mesmo, absorvida da mudança da paisagem a cada segundo a mais de velocidade que o trem alcançava.

Numa hora, já a noite, o frio predominava e me obrigava a me encolher sem ter por onde me aquecer. Nessa viagem, nunca soube quando acabou e o que foi ,mas confesso parece que nunca acabou, pois ainda nem sei minha estação final.

Marcados pelo amor, carinho, atitudes boas e sentimentos bons, nosso eu vai sendo construído com a pessoa que queremos ser ao lado de quem estamos.

Estive tão perto do fascínio como se o amor fosse apenas uma ilusão. Mas o que é realmente o amor? Não deve ser um padrão. Simplesmente esse sentimento não tem características, atitudes corretas e até mesmo uma lei de como amar e a quem amar. Não é desprezível, vergonhoso, horrível e anormal. Não deve ser jogado debaixo do tapete se a verdadeira sujeira está por todo o canto.

O amor assinado é um passo que “todos” fazem quando amam. O protesto feito neste domingo – 13 de janeiro - com mais de trezentas mil pessoas nas ruas de Paris contra o projeto do casamento gay me fez perceber que ainda existe uma influencia muito grande da igreja contra os casais do mesmo sexo.

Casamento de diferente sexo ou não, para quem ama, não liga pra doutrinas que diz o que é certo ou errado, penso eu. Quem é o ser que proíbe o amor se manifestar?

Indiferentemente do país ou continente, se houver estado e democracia, o governo não deverá agir através da religião. Tem que ter uma postura que seja melhor para todos, e não para uma determinada doutrina ou crença religiosa.

Não se trata de apenas um lado da moeda. Houve também manifestações contra a opinião do papa que não gostou da postura do governo. Assim como as manifestações feministas, afrodescendente por direitos, o protesto a favor do casamento gay não é uma exceção. Entretanto, essa não é uma questão de como que um país tal deve agir. A questão é como as pessoas ainda agem sobre isso. Essa tal de resistência ao indiferente que não faz parte de seu mundo, a qual que inibe o respeito sobre outrem. Porém, digo, ninguém tem que aceitar, mas respeitar as diferenças.

Afinal, o amor quando se crê não muda de pessoa pra pessoa. Contra tantas coisas ruins opostas à isso, o que muda mesmo é o meio em que ele está, que dependendo, se torna um esquecimento temporário.