Depois de jantar com Vanessa, Rebeca não hesitou em perguntar sobre a sua vida e trabalho. Ficaram conversando horas até chegar o momento de partirem para o encontro. Rebeca estava na cozinha quando ouviu a companhia tocar. Quase ao mesmo tempo, Vanessa perguntou: 

— Tá esperando alguém? 

— Não... Quem será que é? 

Meio sem jeito, foi até a porta intrigada. 

— Beto? 

— Oi... Bem achei melhor vir aqui, dar uma passadinha antes de irmos. Gostou da surpresa? 

Mas como todo mundo de repente sabe o endereço da casa das pessoas? Rebeca estava surpresa e ao mesmo tempo incomodada, será que é a única do bairro que ainda não se mudou para outra casa? Todos um dia tiveram que morar em outros lugares por causa de novo empregos, independência, etc. Mas Roberta preferiu ficar em seu velho bairro assim mesmo. Vivia com a mãe e era filha única. Depois que ela morreu de câncer no pulmão, preferiu não vender a casa, pois era algo de felizes memórias.

Olhou para o Beto, com os olhos cheios de emoção e o abraçou: 

— Que saudade que eu estava de você, quanto tempo! 

Sua felicidade era de se ver de longe. Tanto que o chamou para se sentar na sala com Vanessa que parecia estar surpresa e receptiva de ter tido mais um encontro com ele. Colocaram o papo em dia como nunca tinham feito antes. Se esqueceram do encontro, beberam e riram de velhas histórias. 

O penteado de Beto, seu estilo moderno e diferente com seu humor e charme eram irresistíveis. Estava mudado, não apenas pela sua aparência. Reparou uma aliança em seu dedo. Talvez comprometido? Ele estava mais que um homem sério e responsável ao seu olhar, estava mesmo é atraente.


Estava nublado e fresco. Ventos que passavam pela rua atingiam a poeira e levava as folhas caídas na calçada para longe. Roberta esperava o ônibus para voltar pra casa. Não queria se atrasar hoje, ia se encontrar com amigos de infância à noite. Pessoas iam e desciam do ponto durante sua espera. Pensou como estaria Beto e mordeu os lábios com uma certa ansiedade. Seu cabelo estava todo bagunçado por causa do vento, sentou-se no banco ao lado de um homem velho.

Ao chegar na rua de sua casa ao descer do ônibus viu uma mulher loira de cabelos lisos conversando com algum vizinho que já vira na rua algumas vezes. Parecia estar pedindo algum tipo de informação. Foi descendo e ouviu alguém:

— Oi! Ei amiga aqui! - gritou a mulher.

— Oi querida!- disse ao reconhecer Vanessa. - Tudo bem? Desculpe, eu ia te mandar meu endereço por e-mail, mas... poxa são tantas coisas, acabei me esquecendo. Mas que bom você por aqui.
— Estou ótima Rê! Consegui seu endereço com o Beto. Lembra-se dele? Aquele que usava óculos enormes. Meu Deus, se você visse ele.. Tá muito lindo, mudou tanto!

— Ah sim! Como eu iria esquecer? - disse sorrindo. - Lembro-me dele quando a gente ia no sebo trocar livros e ele sempre nos mostrava gibis engraçados.- disse rindo ainda mais. Ele sempre a fazia sorrir.

Percebeu que estava diferente logo mudou de assunto para não transparecer:

— Venha em casa, estou chegando agora do meu curso de inglês, se você quiser comer alguma coisa...

— Não, agora não, me desculpe, só vim aqui mesmo para matar a saudade. Estou na cidade a trabalho. Tenho viajado bastante.

— Ah, isso seria uma pena. Por que não fica ate amanha? Vai ter um reencontro dos formandos do ensino médio. Todo mundo vai estar lá.

— Eu soube, eu não ia, já que e só uma noite, parece divertido... então vamos - disse abrindo um sorriso de felicidade.

Não demoraria muito, logo todos estariam reunidos novamente.



Acordou de um jeito que parecia que estava com o dobro de seu peso. Sua cabeça parecia mais pesada. Estava frio em seu quarto, sentiu uma necessidade de calor que não viria de um simples cobertor. Era ela que estava faltando ao seu lado num dia frio de domingo. Seu cheiro, seu sorriso mais sincero, seu cabelo e sua voz doce e suave em seu ouvido. Em dia como esse, que a saudade batia-lhe a porta, a procurava em todas as pessoas e lugares.

Já eram oito e meia, ao lado do relógio havia um bombom. Lembrou-se de sua infância. Era a época mais feliz de sua vida. Não tinha medo de ser feliz. Seu mundo era outro. Dragões, castelos, monstros, heróis e brincadeiras divertidas. Comer doces era o que mais lhe fazia feliz. Pegava dois bombons do pote em cima da mesa que sua mãe deixava e guardava na sua lancheira até a hora de chegar à escola. Quando a via sempre lhe entregava um. Quando não tinha dois para partilhar, entregava o seu pra ela. Era o momento que mais gostava de ter. Foi pra sala e sentou-se no sofá e sozinho começou a chorar.