A partir daquela hora quando entrei naquele trem, um aviso de “mantenha-se seguro, em breve estaremos partindo” me alertou onde eu realmente estava: em um trem velho, antigo. Daqueles de filmes românticos que participam de cenas de despedidas de casais que se encontram anos depois.

Passei pelo corredor de janelas enferrujadas afim de tentar me acomodar. Mais pessoas iam chegando a cada minuto. Por um breve momento achei que teria pegado o trem errado. De um destino sem fim e sem meia volta. Todo aquele esforço de pensar em como poderia voltar e encontrar a saída daquele lugar poderia ser em vão, e assim fui indo, empurrada sem poder voltar por onde eu vinha.

Acabei por encontrar um cabine vazia e aparentemente muito melhor do que as outras. Pensei em como estava com sorte. De lá, consegui enxergar a paisagem sem ver alguma ferrugem exposta. Me deitei ali mesmo, absorvida da mudança da paisagem a cada segundo a mais de velocidade que o trem alcançava.

Numa hora, já a noite, o frio predominava e me obrigava a me encolher sem ter por onde me aquecer. Nessa viagem, nunca soube quando acabou e o que foi ,mas confesso parece que nunca acabou, pois ainda nem sei minha estação final.

Marcados pelo amor, carinho, atitudes boas e sentimentos bons, nosso eu vai sendo construído com a pessoa que queremos ser ao lado de quem estamos.

Estive tão perto do fascínio como se o amor fosse apenas uma ilusão. Mas o que é realmente o amor? Não deve ser um padrão. Simplesmente esse sentimento não tem características, atitudes corretas e até mesmo uma lei de como amar e a quem amar. Não é desprezível, vergonhoso, horrível e anormal. Não deve ser jogado debaixo do tapete se a verdadeira sujeira está por todo o canto.

O amor assinado é um passo que “todos” fazem quando amam. O protesto feito neste domingo – 13 de janeiro - com mais de trezentas mil pessoas nas ruas de Paris contra o projeto do casamento gay me fez perceber que ainda existe uma influencia muito grande da igreja contra os casais do mesmo sexo.

Casamento de diferente sexo ou não, para quem ama, não liga pra doutrinas que diz o que é certo ou errado, penso eu. Quem é o ser que proíbe o amor se manifestar?

Indiferentemente do país ou continente, se houver estado e democracia, o governo não deverá agir através da religião. Tem que ter uma postura que seja melhor para todos, e não para uma determinada doutrina ou crença religiosa.

Não se trata de apenas um lado da moeda. Houve também manifestações contra a opinião do papa que não gostou da postura do governo. Assim como as manifestações feministas, afrodescendente por direitos, o protesto a favor do casamento gay não é uma exceção. Entretanto, essa não é uma questão de como que um país tal deve agir. A questão é como as pessoas ainda agem sobre isso. Essa tal de resistência ao indiferente que não faz parte de seu mundo, a qual que inibe o respeito sobre outrem. Porém, digo, ninguém tem que aceitar, mas respeitar as diferenças.

Afinal, o amor quando se crê não muda de pessoa pra pessoa. Contra tantas coisas ruins opostas à isso, o que muda mesmo é o meio em que ele está, que dependendo, se torna um esquecimento temporário.





Numa típica manhã de um novo ciclo, acordei com os gritos de um vizinho da casa da frente. Meu bom humor pós-apocalipse fracassado de repente se esgotou. Abri a janela e flagrei uma típica cena de novela misturado com reality show. As pessoas que passavam pela casa não paravam de olhar e perceber os dois brigando. As pessoas se tornaram tão fiéis que cochichavam entre si palavras maliciosas e intrometidas. Como se sentissem no direito de ser uma plateia de um romance em crise.

Pensei comigo mesma: não irei prestar atenção, não é da minha conta. Mas isso se tornou inevitável. Havia muito barulho que hesitavam meus pensamentos.

Logo, isso teve um fim até a decorrência da tarde, quando todos comentavam de uma nova briga que acontecia num programa de reality show que passava na TV.

E lá estava eu, olhando por atrás de minha própria fechadura. Ao ouvi-los brigando, um espelho se concretizava em absolutamente nada na minha relação com ele. Justamente por não ter visto que ao meu redor os nossos corações apáticos que absorviam todo o ar e se fazia impossível revigorar-se.

Inquietamente transtornada, tive o cheiro da lembrança, afim de me espiar por dentro e perceber o verdadeiro episódio que se passava comigo e entre nós dois.