Aquilo se diluía num único espremer. Não sei expressar ao certo como aquilo saía de sua cabeça. Parecia cinza e tinha algumas cores. Como o vermelho, vindo de um buraco profundo. Naquela parte era o que mais espremia, mas parecia não se espalhar e se dividir. Desperdício, talvez por existir o vento e dissolver até juntar ao nada, como a gravidade do espaço num momento certo, quando surge uma bola de energia e espalha como a aurora boreal.

Tinha muitas pedras que me machucaram quando eu estava perto. Talvez a tenha machucado também, por dentro. Não pude evitar, não poderia sair dali quando estava ao meu alcance. Não ousaria, me alimentava dessa energia que me fazia enxergar a vida mais clara e melhor. Dias e noites. Ela parecia mobilizada em pequenos fragmentos que flutuava em sua volta. Queria rouba-los para devolve-los de alguma forma para dentro de seu corpo para vê-la bem. O vazio tornava a aumentar.

Como estou pálida! Disse ao sair direto para o banheiro. Querida, não vá se atrasar, hoje temos uma programação especial, beijos e te amo. Ouviu-o saindo pela porta. Enxugou o rosto e escovou os dentes como de costume.

As tarefas, feitas todos os dias a cansava, não era mais aquela jovem de antes, disposta e cheia de energia. Era bonita, adorável e causava muitos efeitos nos homens, principalmente no Daniel, seu antigo namorado.


01h00
Não jantei, e sinto um buraco no meu estomago. Parece que não como há dias por falta de vontade. Sai da cama. A casa estava toda escura, nada de anormal. Peguei o meu celular para ver as horas. Me levantei e tive uma ânsia, me sentindo mal fui até o banheiro para por pra fora o que não me pertencia. Olhei no espelho, minha expressão de enjoo não era nem a metade do que tinha dentro de mim.
Tive uma súbita vontade de sair dessas quatro paredes, fumar um cigarro lá fora, tragar e esfumaçar tudo para dentro de mim, como uma cegueira temporária que talvez me fizesse um alívio. 
Se eu apagasse todas as luzes dos cômodos da casa que eu tinha passado, o escuro ficaria vermelho, algum feixe de luz ficaria escuro, e eu ficaria transparente de dor.
Meu coração começou a acelerar. Como um disco velho, a repetição de lembranças dele tinha um tom repetitivo que não parava. Mal sabe ele que me fere todos os dias nos olhos e no pulso. Como se me matasse a cada dia ao extrair o vermelho que substitui minha escuridão. 
Acordei como que se eu tivesse tido um coma. Percebi o meu redor e me deparei de novo com as horas.